sábado, 3 de outubro de 2009

Giselle na Ópera Garnier – um dia pra não esquecer jamais

No dia 29 de setembro, uma segunda feira, foi dia de arrumar as malas. Partiríamos para a Itália no dia seguinte, e o dia ia ser agitado: almoço com o Dr. Arduin e o tão esperado ballet na Ópera. Achamos que logisticamente seria melhor dormirmos essa noite próximo à Ópera e à Gare Du Nord, de onde teríamos que pegar o primeiro trem para o Aeroporto Charles de Gaulle no dia seguinte.

Hora de ativar a “operação caramujo” – a Kátia nos levou até a Galeria Lafayette, próximo ao nosso hotel, e depois de fazer o check in no Íbis Lafayette, fomos encontrar com Dr. Arduin e d. Liliana. Almoçamos muito bem no Boulevard des Capucines, e ainda deu tempo de irmos até o Museu D´Orangerie – um pequenino museu na entrada do Jardim das Tuilleries, que há tempos queria conhecer. Lá estão 8 telas gigantes de Monet, as maiores ninféias pintadas por ele e doadas para o governo francês após a Primeira Guerra. Fantásticas. Esse museu tem também um importante acervo de obras de Renoir, Cézanne, Modigliani e Gougin. Vale a visita e consegue-se visitá-lo em 1 hora e meia no máximo.

A hora de entrar na Ópera estava se aproximando. Eu já tinha lido tudo sobre o palácio – projetado pelo arquiteto Garnier, com o teto da sala de espetáculos decorado por Marc Chagall e cadeiras de veludo vinho, revelou uma surpresa nada agradável ao seu arquiteto durante a construção, pois o palácio havia sido construído em cima de uma mina de água. Decidiu-se então construir oficialmente um lago dentro do teatro, onde hoje peixes são alimentados pelos funcionários e artistas. Há também dois enxames de abelhas que fazem o mel com pólen colhido no Jardim das Tuilleries.... abelhas chiques, não são? Não se vê nada disso na sala de espetáculos. O átrio do palácio é grandioso, majestoso, com ouro, mármore e cristais por toda parte. Entrar na sala de espetáculos é por si só emocionante. Nessa hora já estava em lágrimas, mesmo antes do ballet começar.

Em dois atos, sendo o primeiro alegre e camponês e o segundo denso e dramático, Giselle é de uma delicadeza e perfeição técnica única, pois os movimentos são lentos e sustentados, e a interpretação faz parte da obra tanto quanto os movimentos. Esse ballet mundialmente famoso e dançado tem música de Adolphe Adam, e foi criado por Jean Coralli e Jules Perrot para a Ópera de Paris e estrelado em 28 de junho 1841 por Carlotta Grisi e Lucien Petipa. Baseado em um conto alemão, é a história de um príncipe disfarçado que se apaixona por uma camponesa (Giselle). Ela porém, quando descobre que ele é um príncipe e que está prometido para uma dama da nobreza, enlouquece e morre, e vira uma Willy, uma espécie de fantasmas nas quais jovens que morrem antes do casamento se transformam. O segundo ato é o Príncipe no vale das Willies, tentando em vão resgatar Giselle.

A apresentação de 28 de setembro de 2009 foi a 740ª apresentação desse ballet na Ópera de Paris, e a 183ª dessa versão. Nessa noite Giselle foi a “Etoile” mais nova do Ballet da Ópera de Paris, Isabelle Ciaravola. Na minha opinião, ela é a que tem o rosto mais bonito, pernas altíssimas e deu um show de interpretação. Tudo foi deslumbrante – no primeiro ato, o cenário e o figurino compunham uma combinação perfeita, como uma pintura, pois tinham os mesmo tons de pêssego, amarelo e bege, e só a roupa de Giselle era azul, e só a cor a destacava, pois não havia outros adornos. Muito lindo! O segundo ato é todo em branco, porém vi com meu super binóculo que o branco dos corpetes não era branco, era um pérola esverdeado quase branco, e tinha manguinhas, e as tão tradicionais asinhas. Muito lindo mesmo.

Giselle tem um significado especial para mim. Minha preferência são os ballets vibrantes, como Dom Quixote, mas tenho um carinho especial por esse ballet romântico. Nos meus idos tempos de Ballet, na adolescência, ensaiei o segundo ato inteiro de Giselle no corpo de baile, por um ano, em todas as posições. Era como uma bailarina back-up para as que faltavam ao ensaio. Meu sonho era poder dançar esse ballet, o que nunca aconteceu... mas hoje estou realizada da mesma forma. Assisti em lágrimas do começo ao fim Giselle na Ópera Garnier, o berço do ballet e o templo máximo das artes clássicas. Era como se eu estivesse também recebendo os aplausos nesse palco.


2 comentários:

Ana Yazlle disse...

Clap, clap, clap! Chorei daqui, minha bailarina! Au revoir!

Carol Manzan disse...

Ai Lu... todos os post são lindos! Estou indo a todos os lugares com vocês! Esse post do ballet está incrivel! Até eu terminei em lagrimas! Parabéns pra vocês! Vocês merecem muito! Um grande beijo, Carol Heilbrunn

Postar um comentário