quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Quem tem GPS vai a Roma

Dia 05 de outubro era dia de pegar as malas e ir para a Cidade Eterna, Roma, nosso penúltimo ponto de parada antes do retorno ao Brasil. No meu otimista plano de viagem tinha programado sair de Siena e passar no caminho pra Roma ainda por mais duas cidadezinhas – Montepulciano, na Toscana e Assis, na Úmbria, para visitar a Basílica de São Francisco de Assis, mas resolvemos encurtar o percurso, pra evitarmos o stress de entrar em Roma com o carro a noite.

Já sabíamos que Roma era uma loucura – muita gente, muita coisa pra ver, muitos turistas como nós, e que dirigir por lá era uma aventura quase como dirigir em São Paulo. Por isso quando reservamos o carro achamos que era mais fácil devolvê-lo assim que entrássemos na cidade, e pelos mapas de trem, achamos que seria mais fácil devolver no Aeroporto Ciampino (o menor, como se fosse o aeroporto de Congonhas, mas mais distante). Ainda bem que ainda em Siena percebemos que seria uma roubada – não tem trem do Ciampino para o centro, só ônibus, e estavamos com nossas mochilas pesadas, ia ser um stress. Então ligamos para a Avis e pedimos para devolver o carro na estação Termini, coração do transporte público em Roma, e não teve problema nenhum, nem pagamos nada a mais por essa alteração. Tivemos outra boa idéia – deixar as malas no hotel antes de ir devolver o carro. Ajudou bastante, as mochilas estavam pesadas e ainda carregávamos alguns suprimentos de supermercado.

Bendito foi o dia que inventaram o GPS. Tudo bem que o nosso era mudo, mas nos ajudou imensamente. De Siena à Termini em Roma ele foi impecável, não nos perdemos e ainda achamos um posto indicado por ele para completarmos o tanque. Nosso Fiat Bravo foi o máximo também – estável, econômico (era a diesel, comum aqui na Europa), espaçoso, confortável. Eu dirigi quase todos os 900km que andamos desde de Veneza até Roma numa boa, foi bem legal. Queremos fazer mais viagens assim, de carro pelo interior dos países – com GPS, claro!


Nosso super Fiat Bravo - carrão!

Devolvido o carro, malas no hotel, Roma Pass comprados na própria estação Termini – vale a pena: 23 euros por 3 dias de transporte público ilimitado e entrada em 2 museus (no nosso caso o complexo do Coliseu e a Galeria Borguese – só essas entradas já dava o valor do Roma Pass), decidimos ir para um dos top points de Roma – a Fontana de Trevi. O choque foi grande – depois de sair de dias zen na Toscana resolvemos ir justamente para o lugar mais muvucado por metro quadrado de Roma. Eu achava que essa fonte ficava em uma praça ampla, tipo a praça do arco do Triunfo em Paris, com espaço para as pessoas, etc... que nada. Fica praticamente num beco, com milhares de pessoas se acotovelando para conseguir tirar uma foto e jogar uma moedinha (ato oficialmente proibido pois danifica o mármore da fonte, mas que todo mundo joga na esperança de voltar – as nossas estão lá também). Ela é linda mesmo, impressionante, mas nesse dia não dava pra ficar muito, tinha muita gente. Fomos então para outra praça próxima, e também famosa – a Piazza de Spagna. Também estranha – não é bem uma praça, é uma rua com uma escadaria imensa e uma fonte, lotada de gente... ai ai. Stress pós Toscana. Valeu porque logo já conhecemos duas das mais famosas praças de Roma, mas foi agitado. Por lá comemos e voltamos para o hotel. Pausa para o metrô: em Roma só existem 2 linhas de metrô, e é razoável, pois não é possível escavar muito por razões arqueológicas. O problema é que o metrô é super profundo, as estações tem um pé direito baixo e o ar não circula, é bem claustrofóbico. O Paulo teve que se controlar pra não sair correndo das estações, sempre lotadas. A linha A tem trens novos com ar condicionado, já a B, que era a que nós tínhamos que pegar para ir para o hotel não tinha, os trens eram bem velhos. Valeu pra gente dar valor ao nosso metro de Sampa.



Nós na Fontana di Trevi...



... e a galera!

Sabíamos que Roma era muito mais que as duas piazzas muvucadas, e é mesmo. Vimos isso nos dias 06, 08 e 09 de outubro. Começamos pela Roma antiga. A Wal e a Meg já tinham me falado do metro que leva ao Coliseu. Ao sair do metrô demos de cara com o Coliseu, foi emocionante. Ele é grandioso, fantástico, nos sentimos um pontinho no espaço e no tempo, diante dessa obra de quase dois mil anos. Fizemos um tour guiado que valeu a pena no Coliseu – descobrimos entre outras coisas que ele só sobreviveu ao tempo porque foi contruído com uma mistura de mármore travertino, uma rocha vulcânica que dá elasticidade e tijolos. Se a construção fosse unicamente de um só desses materiais já teria sido destruído. Descobrimos também que até o século XVI ele era inteirinho recoberto com mármore, e que o Papa mandou retirar tudo para construir a Basílica de São Pedro :O(. As lutas que lá ocorriam nunca eram de gladiadores contra animais – sempre feras entre si, ou gladiadores entre si, e estes raramente lutavam até a morte. Na realidade para lutar no Coliseu o gladiador tinha que ser bom e já ter uma “carreira na profissão”, ou seja, ter sobrevivido a outras lutas em cidades menores. Uma vez que chegava a Roma, era como uma exibição, e então 80% desses gladiadores ganhava do imperador a liberdade. Foi uma bela aula de história.




Coliseu por fora, por dentro e o Fórum Romano - 2000 anos de história

Saímos do Coliseu e continuamos nas ruínas do Palatino, colina onde moravam os imperadores, e no impressionante Fórum Romano. Incrível as ruínas dessa cidade, que dão a noção exata de como os romanos viviam há 2 mil anos. Uma experiência e tanto, muito legal!

Saímos de lá ao entardecer, e aproveitamos para conhecer o Campidoglio na Piazza Venezia, cuja reforma foi projetada por Michelangelo, e fomos de lá pra mais uma praça famosa – essa sim, linda, arejada, espaçosa e com arte e música – a Piazza Navona. Muito elegante, essa Piazza tem, alêm da embaixada do Brasil e uma linda igreja, a imponente e impressionante fonte dos 4 rios (Nilo, Ganges, Prata e Danúbio), esculpida no século XVII, em pleno período barroco, por Gian Lorenzo Bernini, outro da minha galeria de artistas geniais, como Michelangelo. Quem leu ou assistiu Anjos e Demônios vai se lembrar desse nome (porém aquela história é pura ficção mesmo – duvido que um escultor contratado pelo Vaticano com obras primas espalhadas pela cidade inteira e com 11 filhos teria tempo de conspirar contra a igreja). Pelo menos o filme serviu para que eu quisesse conhecer as obras apresentadas, dele, e ver esculturas absolutamente impressionante, esculpidas como se o mármore fosse cera. Vou falar mais delas daqui a pouco. Enfim, amei a Piazza Navona e voltamos lá mais uma vez antes de irmos embora.



Na Piazza Navona, diante da maravilhosa Fonte dos Quatro Rios, de Bernini

Dois dias depois continuamos o passeio por Roma (o dia seguinte foi do Vaticano – próximo post), e começamos o dia indo até o Pantheon, o edifício mais bem conservado de Roma – projetado e contruído pelo Imperador Adriano no século I d.C. Incrível, com uma cúpula de proporções perfeitas, hoje abriga uma igreja e o túmulo de Rafael, um mestre da pintura renascentista, além de túmulos de reis. Depois, fomos até a Piazza del Popolo – essa também uma praça popular de Roma, onde são transmitidos os jogos de futebol na Copa, e visitamos a Igreja Santa Maria del Popolo, cuja Capela Chigi foi projetada pelo Bernini, muito bonita.


Pantheon - o mais conservado edifício de Roma

Importante – indo pra Roma, reserve com antecedência por telefone as entradas para a Galleria Borghese. Vale muito a pena esse museu. É um palácio barroco que fica no meio de um lindo parque, a Villa Borghese, e o edifício por si só é uma obra de arte, com afrescos recobrindo todas as suas paredes. Demos muita sorte, pois além do acervo original riquíssimo do palácio, uma exposição de Caravaggio e Francis Bacon tinha acabado de ser inaugurado. O Caravaggio é incrível: um pintor que não tem tantas obras porque morreu cedo, antes dos 40 anos, mas que na minha opinião sabe como ninguém trabalhar a iluminação de seus quadros. Lindíssimos! A pinacoteca desse museu é impressionante – além dos Caravaggio há ainda importante obras de Rafael e Ticiano. Mas o melhor de tudo são as esculturas. Com quartos feitos só pra elas, fiquei hipnotizada com a polêmica e linda estátua de Paulina Bonaparte como a Venus da Vitória, de Antonio Canova, e as maravilhosas obras primas de Bernini – Davi, Apolo e Daphne e o Rapto de Prosepina. Acho que nunca ninguém soube transformar tão bem o mármore em lindas sedas, corpos que levitam e folhas finas como cristal. São dele também os anjos da ponte sobre o Rio Tibre no Castelo de Sant’Angelo e o projeto da praça de São Pedro. Comprei uns livros sobre ele e sobre a Galleria Borghese, quem quiser ver me avise.

Anjo de Bernini no Castelo Sant'Angelo

Roma vista da Villa Borghese

Depois pagamos um mico com o ônibus – o pegamos para andar 1 ponto só... e fomos para a muvuca das compras na Via del Corso... mais pra ver do que pra comprar – em euro é muito caro! E de quebra passamos de novo na Fontana de Trevi para um sorvete e uma foto a noite.



Aguardem o post do Paulo sobre os italianos “tutti bouna gente”, sobre os micos e a avaliação dos hotéis. Roma é mesmo imperdível, gostamos!

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